Bagé x Peñarol, em 1981

Bagé e Peñarol possuem coisas em comum que vão além da camisa listrada jalde e negra. Além das cores e disposição das mesmas, os dois clubes, principalmente nos anos 20, 30 e 40, negociavam jogadores e muitos uruguaios que residiam em Bagé, tornaram-se torcedores do Bagé por causa destas coisas em comum, assim como muitos bageenses jalde-negros residentes tanto em Bagé como em Montevidéu, nutriam simpatia pelo "auri-negro" uruguayo. Como por exemplo, em 1954 (28 de setembro), o Penharol comemorou seus 63 anos, num amistoso contra o Bagé, em Montevidéu, partida vencida pelo Peñarol por 3 x 2.

E em 1981, Bagé e Peñarol enfrentaram-se amistosamente na Pedra Moura, estádio do Bagé. Eu já sabia desta partida amistosa, mas o jalde-negro Grégory Ricardo, conseguiu o recorte com a notícia desta partida, veiculada pelo centenário jornal Correio do Sul em Bagé.

Além do final esperado de tal embate entre jalde-negros, é curioso observar a linguagem empregada pelo jornal na época. Transcrevo por aqui, porque a leitura se torna mais fácil que no original, mas abaixo mostro a foto da notícia, com créditos para o Grégory, que aparece no Orkut como "Grégory Ricardo Jalde-Negro". Ao Grégory, meus agradecimentos pelo resgate desta notícia do princípio dos anos 80.


Bagé e Penharol: o empate e a briga no final*
"Terminou em grossa pancadaria o jogo amistoso entre Bagé e Penharol de Montividéu, disputado ontem à tarde no "Pedra Moura", diante de um grande público, que rendeu 424.150 cruzeiros (a preço único de 100 cruzeiros).


Faltavam dois minutos para terminar o jogo quando Orion Sather de Melo suspendeu a partida. Era o segundo sururu, surgido após a agressão de Rodrigues ao jogador Julinho (bageense que jogava na Argentina e que, treinando no Bagé, participou do jogo de ontem).


Formou-se a confusão envolvendo os jogadores. Antes, uma briga entre Rubilar e Pereirano (que havia agredido a Mandarino) resultara na expulsão de ambos. Rubilar (que após a expulsão ficara no túnel) entrou em campo e também envolveu-se na briga generalizada.


Empate em 1 x 1

O jogo terminou empatado em 1 x 1. O Penharol dominou nos primeiros vinte minutos, impondo um futebol rápido e objetivo, mas o Bagé, muito bem postado defensivemente, com o estreante Pedro Caetano entendendo-se bem com Rubilar, não dava maiores chances aos uruguaios.

E quando o Bagé soltou-se mais em campo, tendo Suca como a maior figura, marcou o seu gol aos 45 minutos por Jaci, após defesa parcial do goleiro Carrera, em lance pessoal de Jadir.


No segundo tempo o Bagé dominou amplamente o jogo, principalmente porque começou a marcar melhor na meia-cancha e teve boas alternativas ofensivas, por Jadir e o lateral Xavier.

Leco criou uma situação difícil para o goleiro Carrera mandar a córner. Suca cobrou bem uma falta e o goleiro defendeu.

Tinha ainda o Bagé o controle do jogo quando Zé Carlos cometeu pênalti em Cáceres, aos 42 minutos do segundo tempo. O jogador Silva cobrou forte, de pé esquerdo, empatando o jogo. Aí Silva, de forma anti-profissional, foi provocar a torcida jalde-negra, correndo junto as sociais, o que, sem dúvida, serviu para acirrar os ânimos e dar margem ao segundo sururu, envolvendo os jogadores e até os dois túneis.


Os times
O Bagé teve Mandarino, Xavier, Rubilar, Pedro Caetano (muito boa estréia) e Zé Carlos; Suca, Leco e Denner; Preguinho (discreta atuação, substituído por Julinho), Jaci e Jadir.

O Penharol com Carrera, Bueno (a maior figura do time), Oliveira, Gutierres e Moraes (Fernandez); Bóssios, Rodrigues e Silva; Marcenaro (Cáceres), Peirano e Peres (Carrero).

Arbitragem de Orion Sather de Melo, deixando muito a desejar. técnica e disciplinarmente. Bem os bandeirinhas locais Adélio Barros e Egídio Duarte."
*Jornal Correio do Sul



Abaixo a foto da página do Correio do Sul, tirada pelo Grégory Jalde-Negro:


Este relato me lembrou um outro amistoso que eu presenciei, também entre o Bagé e outro time uruguayo, já em meados dos anos 90. O time era o Miramar Missiones (la "zebrita" - por causa do uniforme de finas listras pretas e brancas - também de Montevidéu, como 90% dos times profissionais do Uruguay) e acabou sendo interrompido em virtude da maior luta campal que eu já vi até hoje, incluso o que já vi pela TV. Foi notícia no Jornal Nacional (rede Globo) na mesma noite (como sempre, só falam dos times do interior do RS se for por briga ou coisas muito pitorescas), e portanto estas imagens devem existir e se eu conseguir achar será tema de outra postagem por aqui.

Hoje os tempos mudaram mas ainda existe a identificação, e o Cônsul uruguayo em Bagé, no aniversário do clube (este ano), declarou-se torcedor do Peñarol no Uruguay e do Bagé, no Brasil, e os dois clubes guardam certas coisas em comum, ainda que com algumas pequenas rusgas, como a da notícia acima.
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